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Na quarentena, o antigo trabalho manual ressurgiu como viral no TikTok e como um dos artesanatos preferidos pelas grandes grifes para sensibilizar.
É fácil confundir, mas também é simples reconhecer. O crochê é o trabalho manual feito com uma única agulha de gancho, diferente do tricô, que demanda uma dupla de agulhas lisas como ferramenta. Ele também pode ser identificado pela trama, em geral mais aberta, a linha que pode ser mais grossa ou a gama maior de pontos possíveis de se fazer — cinco, para ser mais preciso, com os quais uma infinidade de variações são permitidas. Por isso, é tão comum ver crochês com diferentes desenhos e texturas em uma única peça, e não apenas liso, como é frequente no tricô.
Apesar das características próprias, há um fator essencial em comum nesses artesanatos, que explodiram em popularidade nos últimos meses: trata-se de um trabalho feito à mão. Com uma forcinha das redes sociais, como o TikTok e o Instagram, atividades como o crochê, o tricô e o macramê caíram como uma luva para os momentos de maior restrição, como quando estávamos isolados em nossas casas à procura de um hobby, um novo ofício para aprender.
Acontece que a técnica extrapolou a imagem de revival 70’s, de saída de praia ou cardigã da vovó. O crochê foi parar em acessórios e em looks completos bastante contemporâneos, que exaltam um kitsch, permitem certa fofura e renovam o que se entende por luxo. Algo artesanal é a coisa mais valiosa que você pode ter agora, foi o que criadores passaram a defender (e com razão!).

A tendência já dava as caras desde o final de 2019, quando rolaram os desfiles de verão 2020 das marcas gringas. Altuzarra usou a técnica em blusas e tops, vestidos com conjuntos de alfaiataria. Giambattista Valli apostou em equilíbrio parecido, colocando sutiãs de crochê em par com saias longas, mais classudas. Stella McCartney, por sua vez, decidiu por vestidos longos, no qual a transparência do crochê ficava destacada. Já a Marni brincou com sobreposições. O crochê de trama bem aberta e com decorações de flores naïf, da marca italiana, virou segunda camada usada por cima de vestidos coloridos, mais grudados ao corpo.
Só que a técnica só foi reinar mesmo durante a quarentena. Quando — quem diria — a prática associada à vovó despertou o interesse das novas gerações. Um dos culpados foi Harry Styles, que havia aparecido com um cardigã de crochê da JW Anderson, em fevereiro do ano passado, em uma apresentação no The Today Show. A peça, formada por quadrados coloridos, como uma colcha de retalhos, já tinha chamado a atenção, mas virou uma fixação entre os novinhos, quando, em pleno lockdown, tutoriais sobre como reproduzi-la em casa se espalharam pelo TikTok. A trend cresceu, e tanto, que foi parar até em looks digitais no Animal Crossing e cativou o próprio estilista criador, Jonathan Anderson, que disponibilizou um PDF DIY, no qual ensina a produzir o modelo no site oficial de sua marca.
©Elle Brasil por Gabriel Monteiro.