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esta matéria é uma continuação de RAIO X DE UM DESFILE
A coleção é um estudo sobre como ideias, vontades, elementos, proporções e silhuetas desencontradas podem se encontrar, combinar, entrar em sinergia. Outras palavras estampadas na tela ao longo da apresentação são: equanimidade, dicotomia, sincronicidade, lealdade, devoção. Isso ajuda a entender alguns pontos importantes da coleção.

Sobre isso, vale mencionar as sobreposições de peças em proporções e silhuetas discrepantes. Tipo um casaco de alfaiataria com uma calça flare meio folgada, meio arrumada. Ou os tricôs oversized com mangas assimétricas sobre blusas ajustadas ou camisas superamplas. E, claro, todos os maxicasacos de matelassê com ombros ligeiramente caídos, quase como a versão de ficar em casa de um sobretudo.

A cabeça coberta é outra referência recorrente no trabalho de Raf e foi um dos pontos mais comentados do desfile de inverno 2018 da Calvin Klein, também assinado por ele.
É interessante pensar como Raf, na contramão de muita marca e estilista já de olho na vida pós-vacina, ainda não se sente 100% preparado para se desapegar do modus operandi seguro e isolado no qual muitos ainda nos encontramos. Em vez de colocar a pele à mostra, delinear o corpo ou apostar pesado na roupa da buatchy, o estilista prefere a segurança não-me-toque de um casaco-cobertor ou o conforto de um tricô oversized.

É verdade que cores e formas, às vezes, parecem querer extravasar. Porém, como na vida real, são os detalhes que nos prendem. No caso, eles aparecem como braceletes de esqueleto, pequenas mãozinhas segurando o braço, delimitando os shapes, alterando a silhueta. Não chega a ser uma prisão, nem algo limitante. Apenas a lembrança de uma realidade e da única certeza que temos em vida: que um dia ela acaba. Se de um lado o memento mori fala sobre a certeza da morte, do outro, ele lembra a importância de celebrar e viver o que nos faz feliz, o que amamos.