Na última segunda-feira, 03.05, o primeiro episódio de ‘Onde Está meu Coração’ foi ao ar na Tela Quente, na TV Globo, apresentando Amanda, a médica de classe média alta, estrelada por Letícia Colin, que leva uma vida corrida e com muita pressão por conta da rotina e demanda da emergência do hospital no qual trabalho, até o momento em que a personagem se deparada com o crack, que se torna um escape, ao mesmo tempo o maior pesadelo e vício.
A série original Globoplay, desenvolvida pelos Estúdios Globo é criada e escrita por George Moura e Sergio Goldenberg, com supervisão artística de José Luiz Villamarim e conta com a direção artística de Luísa Lima, que conversou com Vogue sobre os principais temas que percorrem a série: dependência química, ser mulher versus mercado de trabalho e maternidade, e muito mais.
“Não queremos condenar a humanidade, pelo contrário, a gente quer fazer uma abordagem que não seja de julgamento. Queremos, justamente, apontar quais são as potências humanas, que nos ajudem a lidar com os nossos problemas”, aponta Luísa, que já realizou grande trabalhos no audiovisual nacional, como Insensato Coração, Sangue Bom, O Rebu, Justiça, Nada Será Como Antes e Onde Nascem os Fortes. Confira a seguir, nosso bate-papo na íntegra.
Vogue: Luísa, notei que São Paulo, logo nas primeiras cenas, dá o tom caracteristíco ao enredo e acaba sendo um elemento na série.
Luísa Lima: São Paulo dialoga muito com esse mundo contemporâneo, da alta performance, da produtividade e do êxito. E também é emblemático que a gente sabe da Cracolândia e é um lugar dos mais estigmatizados, que as pessoas falam com muito preconceito, muita rejeição, como se fosse uma reunião de pessoas fracassadas, miseráveis, que não merecem a nossa atenção, o nosso olhar, mas foi justamente nesse deslocamento que o texto provocou ao falar do crack, que é uma droga muito sintomática, do nosso contemporâneo, que é muito um efeito do que a sociedade contemporânea está vivendo, nessa necessidade de alívio absoluto de suas dores, desse preenchimento de um vazio, que a sociedade, em grandes metrópoles, fica muito evidente.
Então, ter em São Paulo esse lugar reconhecido, que as pessoas acham que entendem quem é o usuário de drogas. A partir do momento que você coloca isso, dentro de uma família, de classe alta, em uma mulher que a princípio, tem os atributos considerados, diante do senso comum, como os mais favoráveis dentro de um padrão social, o que é que acontece quando você vê uma pessoa assim? Dependente do crack?
Isso com certeza provoca na gente, mexe com os nossos preconceitos e afasta dos estereótipos para gente de fato atacar as verdadeiras causas desse problema, que são sociais, sem dúvida, a problema também pode ser um dos ativadores dessa dependência, mas são questões também que estão relacionadas a nossa sociedade, humanidade. O foco muitas vezes fica na droga, mas a gente aqui não está falando da droga, estamos usando a droga para lançar luz em nossas questões humanas, sociais, existenciais, nas nossas dores. Parece que não estamos atacando a verdadeira causa, do que faz uma pessoa dependente, e é isso que a gente procura investigar na série.

Vogue: A questão da dependência na série mostra também, o acesso e privilégio de tratamento por parte dos personagens, que chega ser o oposto do que acontece na Cracolândia, de fato.
Luísa: Tirar o crack da Cracolândia e colocar numa sociedade de alta classe, isso já ajuda a gente a humanizar o nosso olhar e a sensibilizar, porque queremos provocar empatia no público, queremos falar de um problema atravessado por muitas famílias, muitas pessoas e que as deixam num lugar muito de julgamento, em que no geral, se pensam em ações coletivas, mas na verdade essas pessoas precisam de apoio, de condições que a sociedade ofereça para que elas consigam se reinserir na sociedade.
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