MANU GAVASSI: “QUANDO VOCÊ VAI NA CONTRAMÃO, ESTÁ SUJEITO A NÃO SER COMPREENDIDO”

Você pode ter se apaixonado pela voz de Manu Gavassi com os covers compartilhados em seu canal do Youtube em 2010. Ou, dez anos mais tarde, com um dos 130 vídeos que a artista roteirizou e gravou antes de entrar no “Big Brother Brasil” – revolucionando a maneira como os participantes disputam o reality show. Ou ainda, neste ano, ao dar play em “Gracinha”, álbum visual codirigido pela cantora. Não importa a maneira como a compositora de “Garoto Errado” te conquistou, há algo em comum entre os momentos em que sua carreira recebeu novos admiradores: a potência de sua produção audiovisual. “Para mim, o fator em comum de todos os lugares que transito é o storytelling. Quando me descobri como uma contadora de histórias, um mundo se abriu. Acho que é meu diferencial saber entregar esse pacote”, analisa a cover girl da Bazaar de outubro.
Para Manu, “Gracinha” marca o fim desse ciclo em que se descobriu como uma artista múltipla. “Tenho muito orgulho deste projeto, falo que ele é meu TCC. Comecei a me interessar por roteiro quando um amigo roteirista, Matheus Souza, leu meu livro (“Olá, Caderno”, 2017) e falou que eu tinha capacidade de roteirizar sozinha. Isso abriu minha cabeça e comecei a estudar”, lembra.
A minissérie “Garota Errada” foi a primeira experiência à frente dos textos e chamou a atenção de marcas, que passaram a convidar a cantora para roteirizar suas próprias publicidades. Logo, Manu foi convidada para participar do BBB, quando transformou sua minissérie nos vídeos que conquistaram o Instagram e ajudaram a manter a concorrente até a final do reality show. “O diferencial desses vídeos foi o storytelling que, na minha humilde opinião, foi impecável. Logo depois disso, comecei a aplicar a mesma fórmula nas minhas publicidades e fiz o clipe de ‘Deve Ser Horrível Dormir Sem Mim’ (parceria com Gloria Groove), que nada mais é do que um upgrade da fórmula para dez minutos. ‘Gracinha’ não segue essa fórmula, mas usei a expertise de tudo que estava aprendendo nos últimos dois anos no audiovisual. Cada sementinha que plantei me fez sentir capaz de fazer um filme de 40 minutos com todo desafio que isso aplica, impecável esteticamente”.

A esperada indicação ao Grammy Latino não veio, mas isso não atingiu o orgulho que Manu sente de sua produção 100% nacional. “Foi muito mais simples do que as pessoas pensam, com muito menos dinheiro, de uma maneira muito apaixonada”, conta. Desde o início, o foco da artista foi criar produções que valorizassem o potencial da cultura pop brasileira, mas que, atualmente, se vê aberta para a internacionalização da sua carreira: “Criar coisas aqui é muito difícil. Existe um limite de budget, um limite até onde o mercado está acostumado a consumir esses conteúdos. Comecei a encarar, nos últimos dois anos, a possibilidade, mas não no sentido de ser famosa internacionalmente, mas de me realizar nas coisas que faço.”
“Quando você vai na contramão do que é fácil de digerir para o mercado e faz coisas diferentes, você está sujeito a não ser compreendido – e isso gera críticas. Hoje, sei muito bem de onde as críticas vêm e são principalmente da não compreensão ou do não querer saber. Entendi que é uma dinâmica que vem junto com a maneira que trabalho e estou aprendendo a fazer as pazes com isso. Entendo que fazer esses projetos maiores, que exigem maior compreensão, talvez seja o que eu gosto de fazer e cresça nisso. Antes, lutava muito contra; hoje estou começando a entender que é o caminho que escolhi e que me leva a lugares maravilhosos”, completa.

Todo o conhecimento e desejo de expandir seu trabalho são frutos da carreira que já soma mais de uma década, que foram celebrados com a turnê “Eu Só Queria Ser Normal”. Para ela, os shows que rodaram o Brasil foram um processo de cura. No País, ainda é pouco comum artistas se dedicarem a diferentes tipos de produções e serem reconhecidos pelo sucesso em todas elas, como se o meio artístico necessitasse de uma categorização muito bem definida. Atingida por essa expectativa, personalidades como Manu sofrem com o questionamento sobre o que realmente fazem. “Minha carreira de cantora nunca foi linear. Ao longo do tempo, com essas outras vontades que tinha de me realizar na arte, não tinha mais o mesmo tempo para me dedicar à música. Foi uma decisão e sou muito feliz com ela. Mas, ao mesmo tempo, enfraqueceu um pouco a minha segurança nesse segmento, sempre recebi comentários muito duros ao meu respeito e fui internalizando isso”, analisa.
A cantora enxerga que a turnê foi um exercício para superar seus medos e ter segurança em um trabalho que executa há muitos anos – e o resultado foi uma aceitação incrível do público e de colegas de profissão. “Me deu mais coragem de me assumir como cantora. Sou uma pessoa extremamente autocrítica, o que é bom porque faz você atingir lugares cada vez mais diferentes e se desafiar. Só que, ao mesmo tempo, é ruim, porque faz você não relaxar e aproveitar a experiência. Me deu vontade de estar no palco com mais frequência, abriram novos caminhos que, em breve, as pessoas vão descobrir também”, completa.



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