Dinheiro investido em novas estradas, hospital infantil e parques fez parte de campanha para mostrar benefícios da vida na Ucrânia após anexação da Crimeia por Moscou, em 2014
Nos anos anteriores à invasão da Ucrânia pela Rússia, iniciada em 24 de fevereiro, a cidade portuária de Mariupol passou por uma reforma. Mais de US$ 600 milhões foram gastos em novas estradas, um hospital infantil e parques para modernizar a cidade de língua russa como parte de uma campanha para mostrar os benefícios da vida na Ucrânia, após a anexação da Crimeia pela Rússia, em 2014.
— Vivíamos bem, felizes — disse Maria Danylova, de 24 anos, que se mudou para um novo apartamento na cidade em agosto passado, depois que se casou.
Como a maioria de sua família, Danylova trabalha para a gigante siderúrgica Metinvest, que investiu mais de US$ 2 bilhões em duas enormes fábricas em Mariupol desde 2014.
— Era uma cidade em desenvolvimento livre, que oferecia tudo o que queríamos — disse, lembrando dos passeios de fim de semana com seus pais na orla restaurada.
Agora, após dois meses de ataques intensivos, a cidade está em ruínas, e sepulturas improvisadas se espalham por suas ruas, entre blocos de apartamentos bombardeados, enegrecidos pela fumaça. Entre os escombros, veículos militares destruídos. Acredita-se que milhares de pessoas tenham morrido na cidade.
Mariupol é um prêmio estratégico para a Rússia, reforçando seu acesso à península da Crimeia através do território ocupado por separatistas pró-Rússia. Mas a intensidade do cerco danificou quase metade da cidade industrial de forma irreparável, de acordo com as autoridades locais.
Os combates também interromperam os trabalhos nas vastas siderúrgicas da cidade, uma das quais continua sendo o último reduto de resistência das tropas ucranianas.
— Tudo o que foi investido (em Mariupol) foi destruído — disse o ministro da Infraestrutura, Oleksander Kubrakov, à agência Reuters.
Invasão e destruição
Nas primeiras horas de 24 de fevereiro, uma coluna de tanques e veículos militares russos foi vista em direção a Mariupol e explosões ecoaram em seus arredores. A invasão tinha começado, e a cidade estava prestes a se tornar um campo de batalha.
Os moradores fugiram ou se mudaram para abrigos em porões para escapar do bombardeio, que logo cortou todos os serviços públicos. A Metinvest suspendeu as operações.
Em 9 de março, bombas atingiram a maternidade de um hospital infantil que havia sido reformado sob o plano de reconstrução. A explosão matou pelo menos três pessoas e arrancou parte da fachada.
Danylova estava abrigada no corredor do apartamento de seus pais, em 13 de março, quando um projétil atingiu o chão. Eles se mudaram para o apartamento dela, no andar de baixo, mas algumas horas depois outra onda de choque próxima explodiu as janelas de sua sala de estar e derrubou a porta.