Professor de antropologia em universidade nos EUA explica as origens das tradições envolvendo o coelhinho da Páscoa e o que elas simbolizavam no passado
O Coelhinho da Páscoa é um personagem muito celebrado nas comemorações da Páscoa norte-americana. No domingo de Páscoa, as crianças procuram guloseimas especiais escondidas, geralmente ovos de chocolate, que o coelho pode ter deixado para trás.
Como folclorista, conheço as origens do longo e interessante percurso que essa figura mítica percorreu desde a pré-história europeia até aos dias de hoje.
Papel religioso da lebre
A Páscoa é uma celebração da primavera e da nova vida. Ovos e flores são símbolos bastante óbvios da fertilidade feminina, mas nas tradições europeias, o coelho, com seu incrível potencial de reprodução, não fica muito atrás.
Nas tradições europeias, o Coelhinho da Páscoa é conhecido como a Lebre da Páscoa. O simbolismo da lebre teve muitos rituais e papéis religiosos tentadores ao longo dos anos.
Lebres receberam rituais de enterro ao lado de humanos durante a era Neolítica na Europa. Arqueólogos interpretaram isso como um ritual religioso, com lebres representando renascimento.
Mais de mil anos depois, durante a Idade do Ferro, os rituais funerários para lebres eram comuns e, em 51 a.C., Júlio César menciona que na Grã-Bretanha as lebres não eram comidas, devido ao seu significado religioso.
César provavelmente saberia que na tradição grega clássica, as lebres eram sagradas para Afrodite, a deusa do amor. Enquanto isso, o filho de Afrodite, Eros, era frequentemente retratado carregando uma lebre, como símbolo de desejo insaciável.

Do mundo grego até o Renascimento, as lebres costumam aparecer como símbolos da sexualidade na literatura e na arte. Por exemplo, a Virgem Maria é frequentemente mostrada com uma lebre ou coelho branco, simbolizando que ela superou a tentação sexual.
Carne de lebre e travessuras de bruxas
Mas é nas tradições folclóricas da Inglaterra e da Alemanha que a figura da lebre está especificamente ligada à Páscoa. Relatos de 1600 na Alemanha descrevem crianças caçando ovos de Páscoa escondidos pela Lebre da Páscoa, assim como nos Estados Unidos de hoje.
Relatos escritos da Inglaterra na mesma época também mencionam a lebre da Páscoa, particularmente em termos de caças tradicionais de lebre da Páscoa e o consumo de carne de lebre nessa data.
Uma tradição conhecida como “Hare Pie Scramble” [torta de lebre corrida, em tradução livre] foi realizada em Hallaton, uma vila em Leicestershire, na Inglaterra, que envolvia comer uma torta feita com carne de lebre e as pessoas “correndo” por uma fatia. Em 1790, o pároco local tentou acabar com o costume devido a suas associações pagãs, mas não teve sucesso, e o costume continua naquela vila até hoje.